quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Paisagem

A água escorre pura,
Prata saltando a rocha,
Luz de minha noite escura,
Da madrugada minha tocha.

As pedras lisas refulgem
E o cenário se compõe,
As margens tristes se tingem
Do ouro que o sol lhes põe.

O verde fica mais dourado,
As velhas pedras mais vetustas,
O azul da água prateado,
As nossas vidas mais curtas.

E as margens se alongando
A nossos olhos esfaimados...
Os pássaros passam em bando
Lembrando sonhos cansados.

De que nos vale sonhar
Mais, mais e sempre mais
Se, quando o dia acabar
Não saberei onde tu vais?

De que serve, debaixo da ponte,
Espreitar o outro lado
Se, por mais que eu conte,
Não o serei como era dado?

A vida que está de lá
É igual, sem tirar nem pôr,
À deste lado de cá:
Mais amor, menos amor...

De que serve dares-me a mão
Se já não tenho o braço?
De que me serve o coração
Numa vida de cansaço?

A paisagem bem ri, serena,
Querendo dar-me paz,
Mas não traduz mais que a pena
De não ser capaz!