sexta-feira, 30 de março de 2007

Confessa


Espreito-te no longe,
Chamo-te entre as brumas do tempo...
Mas as penumbras da memória,
Perpetuada pelo deslizar dos meus dedos no papel,
Escondem-te atrás de ti!

Vem...
Mostra-te no teu sorriso,
Perfuma-me com a tua voz quente,
Fala-me do tempo do Amor
E volta a dar-me a mão!
Leva-me contigo para dentro do teu abraço
E da minha fantasia!
Confessa ao meu ouvido
Quantos beijos ofereces ao meu silêncio!
Sussurra-me o prazer do sonho
Que espreitas em mim!
Beija as minhas sensações
De pele perfumada,
Amanhecida
Na alvorada tranquila
De um livre divagar...

Diz à lua
Baixinho, baixinho...
Palavras de desejo...
Por mim!
E enfeitiça o meu sono!

quarta-feira, 28 de março de 2007

Essências


Entre os meus cabelos desalinhados
Encontro os teus dedos
Macios
Sussurrando na minha pele
Carícias esquecidas!
Dentro dos meus olhos
Encontro o murmúrio
(e o silêncio!)
Do teu rosto!
Pestanejas sorrisos que me aquecem a alma
E estendo-te os meus lábios de fogo
Numa prece de caminhos trilhados
No meu corpo
Pelo teu...
Ainda procuro a boca que me desnudou
E, entre lençóis brancos,
Desceu a colina dos meus seios
E se precipitou na foz do meu prazer...

No meu corpo vazio de ti
Ouve-se o eco dos sons
Que no silêncio do quarto nu
Entoámos em horas só nossas...
E, na solidão das minhas coxas,
Evaporam-se essências esquecidas,
Borbulhantes de loucuras a dois!

segunda-feira, 26 de março de 2007

Emoções


A manhã rende-se ao vento Sul...
Sem pudor, veste-se de negro...
Sensual, busca a Lua
Mas ela foi-se!...
O sol brilha...
Num trono de diamantes,
Ofereço o meu corpo às tuas mãos...
Centelhas de emoções
Gritam o teu nome
Mas a distância amanheceu em ti!
Perco-me nas minhas ousadias,
Perco-te nos teus êxtases
Lançados à saudade,
Abraçados a outros sonhos!
Estendo as minhas mãos
E apenas encontro fios de dor
Que caminham para o Infinito!
Tacteio a tua boca
E encontro pétalas de vento
Correndo para o Paraíso!
E a minha voz cruza os céus,
Toca-te a pele,
Sussurra ao teu ouvido
Que habito a Noite
E o Silêncio...
E nem as mãos do meu pensamento
Te conseguem afagar!

sexta-feira, 23 de março de 2007

Manto


Deixo escorrer os olhos pelo tempo...
Revivo emoções...
Inundam-me a alma em voo livre,
Evaporam-se-me na pele!
Aspiro os resíduos sólidos,
Pedaços de ti,
Devaneios colhidos numa Primavera serôdia!
Voo na tua ausência
Em crepúsculos atrasados...
Por instantes,
Devaneios estonteantes
Acariciam-me o rosto.
A brisa dos sentimentos
Lança-me no rosto
O aroma da tua presença...
Mas a corrente das sensações
Afoga o coração,
Destrói os diques do amor,
Arrasta a afronta e o despeito,
Trespassa-me a alma,
Salta a colina da paz,
E desce aos vales da dor!...

E não há fantasia,
Arrepio
Ou suspiro
Que desagúe na minha noite
Vazia de coxas perfumadas de maresia!
E o meu querer veste-se de vulnerabilidade!
Nua, perante a tua noite,
Deixo cair sobre mim
O manto vago do fim!

quinta-feira, 22 de março de 2007

Início do " Livro da saudade"


Terminou com o poema "desilusão" o conjunto de poemas a que chamei "livro do sonho". O sujeito poético, na impossibilidade de continuar a viver um verdadeiro amor que entretanto terminou, propõe-se partir para o mundo do sonho onde reviverá esse amor e essa paixão. Parte, avisa logo no início, mas não parte só, leva consigo tudo o que já sentiu. Desta forma se inicia o “conto”. O primeiro poema é precisamente “partida”. A “visão” prolongar-se-á por poemas contando essa vida imaginada. Até um dia em que o sujeito poético se dá conta que a luz se extinguiu e as lágrimas congelaram. Decide acordar do sonho e percebe, então, que a personagem principal alvo do seu sonho não é ou nunca foi aquele que sonhára. Termina o sonho. Fui publicando neste blog, um a um, os poemas mas, para quem quiser entender os poemas como conjunto, coloco-os agora com a devida sequência num blog em anexo a que chamarei "livro do sonho".


Inicio hoje um outro conjunto a que chamarei "livro da saudade".


O sujeito poético iniciará a sua viagem através da saudade, tentará explicar porque foi trocado por outra flor mais cuidada. A viagem (saudade) prosseguirá, ora mais calma, ora mais conturbada, para terminar numa pantomina de palhaço e, por fim, num dobrar de sinos. A Saudade arderá numa pira e as cinzas serão espalhadas pelas águas do oceano. Terá terminado a viagem!



No teu jardim



No meu silêncio cheio de nada
Oiço o que a tua boca cala
Mas o teu corpo grita...
Dos teus dedos pinga o mel
Que eu não colho!
E a vertigem nua,
Ceifada na minha intimidade,
Se vestiu de prazer
Em outras entranhas...
No teu jardim, a brisa corre,
Arrepia as minhas pétalas
De flor singela...
Mas só a flor repleta de néctar
Atrai o sol
E as borboletas que te nascem nos lábios
No canteiro que mais cuidas!
Ela estremecerá sob as tuas mãos
E, na suavidade do arco-íris,
Aspirarás o exotismo da sua voz...
Nas minhas pétalas selvagens
O pudor desenhou um não...
Veio o vento...
Veio a chuva,
Desfolhou-me!
No espaço do teu jardim a noite caiu,
Definitivamente!...

quarta-feira, 21 de março de 2007

Desilusão




Na fragilidade de um momento
Escrito pelo tempo sem tempo,
Abri estradas de sentimentos
Que te deixei percorrer...
Partilhámos viagens,
Segredos,
Mistérios...
A tua língua percorreu o caminho dos meus abraços,
A tua ansiedade desceu à minha fragilidade
E, arrepiados,
Excitados,
Tocámos a mesma melodia,
Saciámos a avidez dos corpos que se queriam,
Em prazeres descobertos...

Quando as tuas mãos,
Tocando a minha paixão,
Me abriam num soluço,
Eu voava
Numa leveza de sentidos decifrados!
Mas, para lá do teu peito,
Extinguiu-se a luz!
Escureci nesta minha noite fria...
O frio da desilusão assobia nas minhas entranhas...

As lágrimas gelam
E congelam-me a alma!
Já não estás aí,
Já não és,
Ou nunca foste,
Aquele que no sonho eu criei!

segunda-feira, 19 de março de 2007



Entoo uma canção de amor
Em cada murmúrio...
Cada melodia saída dos meus lábios
É um convite à luxúria...
Moves-te em movimentos graves e agudos
De uma partitura que me ensinas,
Feita de toques e carícias...
O laço que a nossa música teceu em nós
Prendeu-me...
Desataste-te!
Persistiram através dos tempos,
Num céu de olfactos,
Os aromas sensuais!
Aspirei-os para além do tempo
E da saudade...
O acaso nos juntou,
Mas a voz do silêncio
Roubou-te das partículas do meu sonho
E eu fiquei só,
Relembrando apenas os momentos da partida!...

domingo, 18 de março de 2007

Pétalas desfolhadas



Sonho contigo à luz da minha saudade,
Sonho mundos que não conheces,
Invento momentos...
Apaixonada, voo na tua essência,
Fecho a janela do mundo...
Abro-te a alma,
Deixo-te ver-me!
Dos meus lábios sopro ventos favoráveis
Para que navegues à bolina no meu corpo!
Desliza pela minha pele,
Esquece a linha do horizonte
Que te diz adeus!
Segura as minhas mãos entre as tuas,
Vem, antes que o Outono
Desfolhe as minhas pétalas...
Macias e leves
Suspiram de saudade!
Vem sentir o seu perfume,
Deixa que as teus sentidos as despertem,
Toquem e excitem...
Deixa que as tuas mãos me adormeçam
No teu chão quente,
Numa Primavera por mim inventada
Em jardim de rosas perfumadas!

sexta-feira, 16 de março de 2007

Mundo mágico




No camarim da minha dor,
Revejo-me na exiguidade do teu sentir!
Ferida até ao âmago do tempo,
Desenlaço as mãos do sonho,
Do não ser,
E pago o ónus de te querer
E não ter!
Recolho-me à escuridão da paz,
À sombra insinuante da noite...
No seu abraço cúmplice,
Rio e choro sem fronteiras
Que não tracei.
Apago o tempo dos outros,
Fecho-me neste instante
De nós...
Abandono-me às tuas mãos sedentas,
Destruo as paredes do mundo,
E mergulho em ti!
Estremeces,
Em sintonia com o meu desejo,
E o teu prazer chora.
Aceso,
No lume que te queima as entranhas,
Desces sobre os meus suspiros!
E deixo as tuas mãos envolverem-me!...
Num passeio perfumado,
Deslizam,
Flutuam,
No mundo mágico da imaginação!

quinta-feira, 15 de março de 2007

Ausência



Na distância de um sonho,
Cravo o meu desejo na tua ausência!
Seguras-me o deslizar do meu corpo no teu
E travas o meu ondular de serpente em ti.
Ofereço os meus seios à brisa dos teus suspiros
E recolho a paixão na ponta dos teus dedos!
Quando chega até mim o aroma do teu desejo,
Misturo-o com o meu
E, embriagada,
Me ofereço!
Escorrego para dentro dos teus braços
E das tuas negações...
A minha pele exala perfumes desconhecidos,
Descontrolados,
Molhados,
E a minha língua lambe a distância que separa as nossas bocas!
Abro, então, as portas ao teu desejo,
Degustas-me impregnada de ti...

Espalhada por nós,
Eu decifro os teus movimentos
No emaranhado inexistente
Das nossas roupas aninhadas no chão!

quarta-feira, 14 de março de 2007

Quero-te



Pouso os lábios na curva do teu pescoço,
Aspiro-te,
Colho pedaços de ti,
Guardo-os na ponta da minha língua,
Saboreio-te de encontro ao meu palato!...
Solto um suspiro e exalo incenso!
Respira-me,
Colhe-me no hálito a paixão,
Devora-a
E perfuma-me a pele com o teu suor!
Toma-me,
Eleva-me do chão,
E sonha comigo um amor de céu!
Conserta a minha pele rasgada pela tua falta,
Costura as feridas que sangram de ausência,
Anestesia o meu ventre que dói no teu não!
Quero-te!...
Mas o sonho findou!

terça-feira, 13 de março de 2007

Deixa-me entrar


Penetro na noite através da lua nova,
Desfaleço, inquieta, de tanto sonhar...

Insinuo-me nos teus lençois
E não te encontro!
Em cansaços íntimos,
Desilusões famintas,
Evaporaste o amor que me perlava a fronte;
O coração continuou gemendo
E os olhos chorando...
Em vão!...

Trago-te para o sono desfeito,
Colho-te os lábios
E assomo à porta da tua alma.
Deixa-me entrar! – murmuro junto a ti.
Abre-se uma fresta,
Esgueiro-me por ela...
E possuo-te num frenesim de condenada!
Roubo-te a saliva, o suor e o sémen...
Quando me preparo para te assimilar a alma
Já não sei de ti!...

domingo, 11 de março de 2007

Contigo




No amanhecer dos meus olhos,
Abriu-se-me a alma…
Sem saberes,
Acordei abraçada a ti,
Renasci no caminho que pisei
E colei o meu corpo ao teu!
Sentes-me,
Lembras-te que existo em ti
Aspiras-me no teu perfume,
Recordas-te do que não fomos,
Desejas-me!
Mais do que dei um dia…

Hoje quando a tua noite
Fizer sossobrar o meu sol,
Grita ao vento que me não amas
E sente as minhas lágrimas cairem
Das nuvens do sonho,
Num amplexo final!...

sexta-feira, 9 de março de 2007

Tempo


No meu lago de águas escuras,
Quietas,
Sem vida,
Perdura à superfície lodosa
Uma ternura espelhada no infinito da eternidade!
Das minhas mãos transborda a minha alma
E o sofrimento faz-se doçura
Deslizando – me pelos dedos
Ansiosos de magias,
Loucuras,
Desatinos…

Para lá da minha pele,
Dos meus sentidos,
Da atracção inexplicável como um feitiço,
Transformo o amor em saudade…
E o meu desejo errante,
Nascido nos primórdios do tempo,
Flui na minha memória a caminho do futuro,
Futuro anulado
Porque, desde o início,
Este sonho viveu no passado!
Tento seduzir a roda do tempo,
Enganá-la…
Em vão…

O futuro e o presente confundiram-se…
Dessincronizados,
Abalaram ambos,
Numa corrida inversa,
Para o passado…

quinta-feira, 8 de março de 2007

Loucura




Cola o teu sonho ao meu,
Paira na sua leveza...

Sobre o meu aconchego
Toca-me com entoações de amor;
Entranha-te na minha pele,
Enlaça-me nos teus lábios,
Escorrega pela minha paixão...

E num céu de inexactidões
Dança comigo os ritmos da minha fome!
Completa comigo uma sinfonia,
Dirige a orquestra dos meus sentidos...

E numa sintonia de desejos
Entoa as nossas emoções,
Toca de improviso
A sequência que vou inventando,
Vem ser o maestro da minha loucura!

quarta-feira, 7 de março de 2007

A minha criação




No emaranhado indistinto das vielas do sonho
Perco o rumo,
Perco o caminho que tracei de mim para ti...
Desapareço da ilusão que sonhei em ti.
Abandono a minha criação,
Mas herdarás de mim
As palavras lançadas ao mar da minha paixão,
Os momentos vividos nos braços da solidão
E a minha mão soltando a tua...

E eu
Nos lábios levarei o segredo,
Na voz, o silêncio,
Na pele, o teu cheiro
E, em cada amanhecer,
Uma alma branca!
Levarei…
Levarei!...

terça-feira, 6 de março de 2007

Caminho


Em breves passos por ruas incertas
Prosseguia…
A energia da alma esvoaçava da minha mente
Para lugares desconhecidos
(Ou inóspitos?)
Onde os meus dedos não chegaram…

Dessedento a lógica,
Sacio a razão…
Debalde!
A minha alma está só,
Alimenta-se na ausência!
E na minha caminhada nocturna
Calco as estrelas no trilho da saudade,
Deslizo pelas avenidas do meu sonho…
Procuro-te nas avenidas das minhas veias,
Invento-te em mim ao som dos meus passos…
Sigo-te,
Dobro as esquinas do teu corpo,
Bato à porta da tua boca,
Penetro-te!
Entrego-te o lume dos meus desejos,
Consumo o teu corpo em carícias desmedidas,
Preencho-te cada recanto de pele macia,
Sopro-te fantasias ao ouvido,
Incendeio os teus fantasmas…

E quando os teus lábios devoram a minha luxúria
Sais de ti,
Entras em mim
Numa madrugada infinita
De prazeres proibidos!
Esqueço os caminhos, as avenidas, as vielas…
Só sei o caminho do amor em ti!

sábado, 3 de março de 2007

Enigma




Disfarçadamente,
Insinuo-me por entre as franjas do tempo...
Entre as fronteiras do passado e do futuro
Consigo encontrar-te,
Sombra luminosa de ti
Reflectida na tela da minha imaginação...

Do outro lado me escondo e dispo a alma.
Cubro-me com as vestes solitárias de uma noite sem estrelas!
Procuro descolar as minhas asas,
Readquirir o meu brilho...
Vejo-te ainda e caminho para ti!
Vens sorrindo,
Trazes nas mãos o enigma de ti,
Eu levo na pele a resposta que não aceitas.
Por instantes que valem séculos
O meu coração palpita,
Parte para te colher...

Uma doce ansiedade provoca-me arrepios de lume,
Derrubo o espaço e cruzo o teu céu!...
Mas o fino véu que me separa de ti
Torna-se a minha mortalha!
Encontro-te dentro de mim...
Para te sentir partir...

quinta-feira, 1 de março de 2007

Páginas vazias de nós


Construo um livro
De páginas vazias de nós...

Cada dia,
As minhas mãos dementes
Inventam e moldam
Mais uma página...
Empurro os teus impulsos
Para dentro de cada uma;
Roubo ao silêncio da tua boca
Frases que me apetecem
No fecho de capítulo...

Absorvo-te na chama que arde em mim
E, com o estilete da alma,
Desenho nos teus ouvidos
Desafios,
Canções
E ilusões.

Voo para lá de cada página,
Numa tentação indecifrável,
E procuro que as tuas mãos
Me prendam ao teu cheiro,
Me desfaçam as confissões
Que projecto em cada linha
Escrita sem nós!